Não jogue fora seus CDs
Você pode se arrepender dessa tentativa equivocada.
Houve um tempo em que o som tinha corpo.
Redondo, prateado e vinha dentro de uma caixa transparente que refletia o mundo ao nosso redor. Cada CD carregava mais do que músicas. Trazia memórias, silêncios, e o ritual de colocar o disco na bandeja, ouvir o clique e esperar aquele segundo mágico antes do som começar.
Hoje, a pressa é digital. O streaming toca tudo, mas não pertence a ninguém. O que era posse virou acesso temporário. Você não “tem” mais as músicas, apenas as visita por alguns minutos. E, se o servidor cair, o silêncio volta. Não há encarte para folhear, nem capa para admirar. Só a tela fria do celular, com uma imagem quadrada e uma promessa de praticidade.
Mas cuidado: o progresso também apaga rastros.
Muitos jogaram fora seus CDs achando que estavam libertando espaço, quando na verdade estavam se desfazendo de uma parte da própria história. Cada disco é um fragmento de quem você foi. Das tardes em que uma canção salvou o dia, das madrugadas em que o som do violão de alguém parecia falar por você.
Um dia, talvez, o streaming pareça velho.
Talvez o mundo volte a desejar o que é tangível, o som que exige pausa e presença. Já pensou? Talvez daqui a vinte anos alguém diga com admiração: “Você ainda tem CDs originais?” E você, então, lembrará daquele dia em que quase os jogou fora e perceberá que o arrependimento seria inevitável.
O CD não é só um objeto: é uma cápsula de tempo.
Cada arranhão é uma lembrança; cada trilha, uma conversa com o passado. Jogá-los fora é como apagar um diário, rasgar fotografias, esquecer o som da juventude.
Se há algo que o digital ainda não conseguiu substituir é o toque. A textura do real, a leve resistência da bandeja, o reflexo do arco-íris no disco girando sob a luz.
Então, não jogue fora seus CDs.
Guarde-os. Eles são o testemunho de uma era em que a música tinha peso, cheiro e presença. Uma era em que ouvir era um ato de respeito e não apenas de distração.